
Ó fonte que estás chorando
Junto ao rio do Pessegueiro
Onde o rouxinol bebe
E depois vai p'ró loureiro!
1.
Que pitoresco lugar!
É obra da Natureza
Que encarregou a Beleza
Para o lugar adornar.
Não foi artista vulgar
Que te esteve preparando
Nem arquitecto mostrando
Ao vulgo, talentos seus.
És obra filha de Deus,
Ó fonte, que estás chorando
2.
Em noites de solidão
Quando eu em sonhos te vejo,
Eu louco, mando-te um beijo
Nas asas da viração.
Na noite de S. João
Toda és perfume e cheiro.
Com os cravos do craveiro
Fazem-te um arco, e com rosas
Há palavras amorosas
Junto ao rio do Pessegueiro
3.
Junto à torrente do rio
Formas sereno ribeiro
Que banha o Pessegueiro
Nas lindas noites de Estio.
O melro, com o assobio,
Dá-te aspecto mais alegre
Vem bafejar-te ao de leve
A brisa, que é tua amiga
Quando termina a cantiga
Onde o rouxinol bebe.
4.
Dos bosques, o trovador,
Em noites quentes, de prata,
Vem dar-te uma serenata
Em hinos cheios de amor.
Solta trinados sem dor
Pousadinho no loureiro,
É teu fiel companheiro
Nas horas de solidão,
Dá-te um beijinho ao serão
E depois vai p'ró loureiro
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de: João Gonçalves (João do Lagar)
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Esta décima contém uma carga enorme de romantismo revelador de uma grande sensibilidade amorosa e comunhão com a Natureza. Poderá hoje ser um hino de qualquer grupo ecologista.