
As reformas e pensões....
- Ora, até que enfim que o encontro, compadre Bisca!!!
- Caro compadre Ás, atão vocemecê é que nim por cá aparece e óspois diz que eu é cando desaparecido!
- Olhe, a doutora mandou-me fazer umas análises e tenho andado de cá para lá, que até já me passou a doença e tudo!
- Imagino! Com a carteira mais leve até o compadre anda melhor!...
- Mas conte-me o que é que tem feito!
- Olhe, compadre Ás, ando muito desiludido. Se não fossem as festas que por aí têm aparecido acho caté já tinha desfalecido
- Não me diga que ficou com saudade dos burros da serra!...
- Bom, lá isso gostei! Atão nã é que o nosso compadre presidente sabe guiar bem aquela coisa?! Tem jeito para a arreata!!!
- É preciso saber de tudo um pouco!
- Olhe, eu inté lá fiz uma cantiga cando o vi assentado im cima da besta: Arreata, pum, pum, arreata pum, pum, arreata ó teu burrico
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- Afinal vocemecê até está contente
- É sol de pouca dura, compadre, e vou-lhe contar porquê.
- Conte lá
- Ando triste. Ê já nim compro o jornal, mas lá vou lendo as maiores das primeiras páginas, ali do café. Ele é o nosso ministro das Finanças a receber uma pensão do catano, ele é os gestores dos hospitais com ordenados de luxo, ele é os autarcas da capital a receber fora da lei, ele é brutas carros prós presidentes disto e daquilo, ele é carros prós condutores dos bruta carros, ele é eu sei lá o caraças
- Não se enerve, compadre, não se enerve, que essa linguagem já me parece que vocemecê está a ficar exaltado
- Qual exaltado! Indignado!
- Mas porquê? Porque eles ganham muito? Vocemecê é que ganha pouco!
- Ora aí é que bate o ponto. Eu pus-me aqui a falar ca nha Jaquina e então chegámos a uma acordo. Ela que já domina ali o computador fazia as contas e eu ditava: umas oliveiras na serra, um bocadito ali na Quinta dos Aciprestes, otro bocadito ali no Pobral, a trotinete, mais umas coisitas e assim chegámos à conclusão qu inda temos um dinheirito para entregar ó stado
-E então? Estou curioso!
-Atão é muito simples! A gente vai a Lisboa saber canto é que o nosso ministro das Finanças descontou para ter aquela reforma lá do Banco de Portugal e ê, que sou tã Português como ele, quero entregar o mesmo dinheiro para arreceber uma reforma igual
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-Ó compadre, vocemecê não é burro de todo
-Atã pois! A gente entrega o mesmo que muitos desses compixas entregaram e certamente temos que ter os mesmos direitos
- Ora toma! Bem pensado!!! Arre, burro!!!
in: Jornal Serras de Ansião, Julho 2005, António Simões