Do livro Cores da Vida do nosso conterrâneo Arménio Rosa Medeiros, registamos este texto, das páginas 17 e 18.
…“Na aldeia, a vida corria ao sabor do vento. O tempo não passava com a mesma pressa do de hoje. O trabalho era de sol a sol. Todo ele trazia consigo a marca do sacrifício e da angústia que por vezes assolava o rosto e a face das gentes simples, pacatas, mas felizes, por sentirem as leis da vida e o descanso na consciência.
Na época, como não havia arado, charrua, tractor ou outro meio rústico de trabalhar a terra, para além da enxada, a mesma era dobrada à força do braço humano.
Grupos de homens da aldeia, após um pequeno-almoço reforçado e suculento, dirigiam-se para os campos do futuro milho que era necessário cultivar e, em frentes de quinze e de vinte, levantavam a terra, qual arado, puxado a junta de bois.
Lá pelas dez horas, traziam as enxadas, espetavam-nas no solo seco e serviam-se delas como se fosse um banco de sentar. Vai daí, a patroa, puxava da cesta, a toalha grande de linho, estendi-a sob o solo e começava por colocar a "côdea," como se chamava a refeição àquela hora. E sabem como era regada? Não era com água nem com chá, não. Era regada a vinho tinto do bom e do melhor. Aquilo era comer e chorar por mais.
A chouriça e aquela morcela caseiras, com aquela broa de milho amarelo cozida em forno de lenha, regalavam e amparavam aqueles homens, na força, até à hora do jantar.
As doze em ponto, era servido o jantar no campo com todos os requintes. A toalha mais uma vez ia para a mesa. A mesa, era o chão onde todos se sentavam. Uns, no solo. Outros, no cabo da enxada como atrás dissemos. Todos comiam e bebiam normalmente.
A base da alimentação continuava a ser a carne de porco cozida com batata, hortaliça e farinheira, tudo acompanhado é claro, com o precioso líquido da região.
A seguir, uma valente sesta de quase hora e meia, controlada pelo relógio de sol. Após a dita sesta o serviço iniciava de novo até à merenda, onde mais uma vez se parava para apreciar um naco de pão com queijo e beber um valente copo do já famoso vinho.
Daí, à tardinha, era um salto de pardal.
Ora essa! O trabalho exigia uma reparação rápida das forças e não se fazia esperar.
À noite, quem queria, ficava. Aguardava-o uma ceia recheada de coisas boas e gostosas.
Era hábito na terra, ninguém romper a tradição. Ali ficavam e alguns, só dali saíam directamente para a cama.”…
Arménio Rosa Medeiros, nasceu em Lisboinha, Pousaflores a 18 de Junho de 1943.
Após o Liceu partiu para Salamanca, Espanha, onde concluiu o Curso de Filosofia com a média de 14 valores.
No ano de 1965 já em Portugal, terminou o 2° ano de Teologia no Instituto superior Eclesiástico do Porto, embrião da futura Universidade Católica.
Depois de haver passado por alguns colégios como professor provisório, foi chamado para o serviço militar, onde frequentou e aprovou no Curso de Oficiais Milicianos.
Em 1970, embarcou com destino à Guiné onde permaneceu dois anos como Alferes. Quando regressou da Guiné, frequentou a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
Em 1974, concorreu à GNR, tendo iniciado o estágio em1975. Foi promovido a capitão em1989,a Major em 1997 e a Ten. Coronel em 2002.
Possui a medalha Comemorativa das campanhas de África (Guiné 1970-72), a medalha de Assiduidade de Segurança Pública, a medalha de comportamento exemplar Grau Prata e a medalha de Comportamento exemplar Grau Ouro.
Do seu"curriculum", constam ainda seis louvores. Um, atribuído pelo General Comandante Geral da Guarda Nacional Republicana. Os outros, pelos Comandantes de Unidade.
De 1997 a 2000 foi Comandante da Formação do Comando Geral da Guarda.
De 2000 a 2003 desempenhou as funções de 2° comandante do Grupo Territorial da Guarda Nacional Republicana em Penafiel.
Por último, ao ser promovido a Tenente-coronel, foi colocado na Brigada Territorial de Évora.
Tem publicado alguns artigos e alguma poesia, em diversos órgãos da comunicação social, regional, e na Revista da Guarda, "Pela Lei e Pela Grei" é o livro agora editado, que nos apresenta, numa forma muito pessoal, alguns momentos da vida, alguns vividos na sua terra natal, Lisboinha, Pousaflores.
Cores da Vida
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