
**MOTE**
Havia uma fonte afamada
D'água fresca e saborosa
Que hoje está abandonada
Sob a sobreira frondosa.
--1
Do lugar em que nasci
Relembro-me com saudade,
Troquei-o pela cidade,
Mas nunca mais me esqueci
De tudo o que lá vivi.
Sua gente era animada,
Mesmo que pouco abastada;
Da terra tirava o pão;
P'ra dar água à região
Havia uma fonte afamada.
--2
Desciam as mães co'as filhas
Por um estreito carreiro,
No domingo soalheiro;
Nas cabeças as rodilhas
Para assentarem as bilhas;
Gente bonita e vaidosa
Em conversa rumorosa,
Pelo carreiro subiam,
Depois que as bilhas enchiam
D'água fresca e saborosa.
--3
À minha terra voltei,
Depois do mundo rodar;
P'rá minha sede matar,
P'rá fonte me encaminhei;
Com surpresa, não escutei
Nenhuma voz animada,
Só o rumor da levada,
Vindo do sopé do monte...
Solitária voz da fonte,
Que hoje está abandonada.
--4
Com sofreguidão, bebi
D'aquela água fresca e pura;
Senti profunda amargura
De ninguém mais ir ali.
Bebida de javali,
Tornou-se a fonte mimosa,
E, da gente valorosa
Que outrora por ali vinha,
Restou a lembrança minha,
Sob a sobreira frondosa. "
de: Trovador Tímido