Mais um ano se cumpriu a tradição da feira da Trocovenda.
E se a época é sempre uma incógnica quanto a tempo, este domingo esteve mesmo óptimo para o convívio e para as trocas, claro das coisas da terra pelos euros do bolso.
Os Cucos, dirigidas pela prof. Helena Gonçalves, graças aos cházinhos, ao mel, ao licor, e ao vinho da Boxa, têm vindo a melhorar os seus dotes musicais, ali bem manifestados nas bonitas canções que nos apresentaram.
Claro que, é evidente, com toda a sua coragem e esforço, pois estas coisas da música não aparecem só porque se é dotado. Agora, o que os Cucos precisam é de "outros ninhos" para apresentarem os seus dotes musicais. Estão pois de parabéns todos os que fazem parte desta bonita "Cucaria"...
A prof Helena Gonçalves estava muito animada com o seu grupo. E os "Ai, Ai" das meninas da aldeia com o buraco na meia, fizeram a assembleia pedir mais.
Toda a assistência estava atenta. Até o cãozinho parecia calmo ao som da música
A Assembleia aplaudiu alegremente. E até a Ti Janeira não deixou de estar presente, apesar de vir em cadeira de rodas.
Mas, se os Cucos foram um prato especial, o vinho, a agua pé, os pastéis de bacalhau, a entremeada souberam a sobremesa. E o pessoal do bar soube representar o seu papel até ao último momento.
Bairrada é bairrista, e mais uma vez recebeu da melhor forma os amigos que a visitaram.
O "Farpas" faz as honras da casa e lá vai dizendo para o Eduíno, do Restaurante Galileu :"Vê lá se aprendes a fazer uns pastéizinhos de bacalhau..."
Para terminar, um bailinho à moda antiga, onde o Valdemar Dias e o António Simões, sanfonando nos seus acordeões, acompanharam os famosos fadistas da terra e arredores, e fizeram toda a malta dançar até mais não poder ser.
E agora, depois de darmos os parabéns, é esperar para o ano. Vai haver mais Trocas certamente.
A Associação de Cultura e Recreio de Pousaflores- ACREP, tem, desde Setembro de 2005, com distribuição gratuita, o seu Boletim, intitulado " O MIRADOURO".
Neste mês de setembro foi distribuído o nº 8, que podem consultar na página disponível pela ACREP - (Boletim nº8).
O Boletim é totalmente a cores e possui 12 páginas em bom papel. Além de notícias actuais, o Boletim aborda os assuntos do Folclore, do Artesanato,da História, do Desporto, além de muitos outros, quer culturais quer de simples passatempo.
Como este boletim já indica Ano nº 2, aqui deixamos os nossos parabéns ao Jovem Boletim.
Embora estes parabéns sejam extensivos a todos os que com ele colaboram, teremos que salientar o dinâmico Nuno Ventura, que tem posto todo o seu saber e dedicação na causa da Cultura da sua terra.
E, para terminar, os parabéns estendem-se a toda a ACREP, na pessoa do seu presidente e estimado amigo, Joaquim Ventura.
-paisagem Portela de S. Lourenço, 12maio2006
Pouso a caneta e não escrevo
Penso a rima e não versejo
Digo ao sonho, não me atrevo
Sem coragem, nem desejo!
.
Fiz-me ao dia sorrateiro,
Logo ao romper da aurora.
Sem atrasos nem demora
Procurei um bom terreiro,
Para dar um tiro certeiro
Com minh’ arma de relevo,
Peço perdão a quem devo,
Por não ser um bom guerreiro
Devolvo a arma ao armeiro
Pouso a caneta e não escrevo.
.
A arma da minha estima
Pontiaguda e deslizante
Retornou ao fabricante
Tem a mira um pouco acima
Altera-se com o clima
Desprovido como me vejo
Sendo grande o meu ensejo
Ainda que veja a Palaia
O Lebre mais sua faia
Penso a rima e não versejo.
.
Quando à tarde me passeio
Pelas serras da freguesia,
Em dias de ventania,
Confesso o meu receio,
Dos moinhos no seu volteio.
Vem a noite com seu enlevo
Serenar o bom mancebo
O sono enche-me a alma
Para não perder a calma
Digo ao sonho não me atrevo.
.
Se sonho que faço um verso
Posso até ficar vaidoso
Mas se acordo é curioso
Em problemas imerso
Pela certa me disperso
A vida que antevejo
Rouba-me o sabor do beijo
Das papoilas na seara
Anda à deriva e não pára
Sem coragem e sem desejo.
..........
António Directo, in: www.Pousaflores.net , 14 maio2006
Do livro Cores da Vida do nosso conterrâneo Arménio Rosa Medeiros, registamos este texto, das páginas 17 e 18.
…“Na aldeia, a vida corria ao sabor do vento. O tempo não passava com a mesma pressa do de hoje. O trabalho era de sol a sol. Todo ele trazia consigo a marca do sacrifício e da angústia que por vezes assolava o rosto e a face das gentes simples, pacatas, mas felizes, por sentirem as leis da vida e o descanso na consciência.
Na época, como não havia arado, charrua, tractor ou outro meio rústico de trabalhar a terra, para além da enxada, a mesma era dobrada à força do braço humano.
Grupos de homens da aldeia, após um pequeno-almoço reforçado e suculento, dirigiam-se para os campos do futuro milho que era necessário cultivar e, em frentes de quinze e de vinte, levantavam a terra, qual arado, puxado a junta de bois.
Lá pelas dez horas, traziam as enxadas, espetavam-nas no solo seco e serviam-se delas como se fosse um banco de sentar. Vai daí, a patroa, puxava da cesta, a toalha grande de linho, estendi-a sob o solo e começava por colocar a "côdea," como se chamava a refeição àquela hora. E sabem como era regada? Não era com água nem com chá, não. Era regada a vinho tinto do bom e do melhor. Aquilo era comer e chorar por mais.
A chouriça e aquela morcela caseiras, com aquela broa de milho amarelo cozida em forno de lenha, regalavam e amparavam aqueles homens, na força, até à hora do jantar.
As doze em ponto, era servido o jantar no campo com todos os requintes. A toalha mais uma vez ia para a mesa. A mesa, era o chão onde todos se sentavam. Uns, no solo. Outros, no cabo da enxada como atrás dissemos. Todos comiam e bebiam normalmente.
A base da alimentação continuava a ser a carne de porco cozida com batata, hortaliça e farinheira, tudo acompanhado é claro, com o precioso líquido da região.
A seguir, uma valente sesta de quase hora e meia, controlada pelo relógio de sol. Após a dita sesta o serviço iniciava de novo até à merenda, onde mais uma vez se parava para apreciar um naco de pão com queijo e beber um valente copo do já famoso vinho.
Daí, à tardinha, era um salto de pardal.
Ora essa! O trabalho exigia uma reparação rápida das forças e não se fazia esperar.
À noite, quem queria, ficava. Aguardava-o uma ceia recheada de coisas boas e gostosas.
Era hábito na terra, ninguém romper a tradição. Ali ficavam e alguns, só dali saíam directamente para a cama.”…
Arménio Rosa Medeiros, nasceu em Lisboinha, Pousaflores a 18 de Junho de 1943.
Após o Liceu partiu para Salamanca, Espanha, onde concluiu o Curso de Filosofia com a média de 14 valores.
No ano de 1965 já em Portugal, terminou o 2° ano de Teologia no Instituto superior Eclesiástico do Porto, embrião da futura Universidade Católica.
Depois de haver passado por alguns colégios como professor provisório, foi chamado para o serviço militar, onde frequentou e aprovou no Curso de Oficiais Milicianos.
Em 1970, embarcou com destino à Guiné onde permaneceu dois anos como Alferes. Quando regressou da Guiné, frequentou a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
Em 1974, concorreu à GNR, tendo iniciado o estágio em1975. Foi promovido a capitão em1989,a Major em 1997 e a Ten. Coronel em 2002.
Possui a medalha Comemorativa das campanhas de África (Guiné 1970-72), a medalha de Assiduidade de Segurança Pública, a medalha de comportamento exemplar Grau Prata e a medalha de Comportamento exemplar Grau Ouro.
Do seu"curriculum", constam ainda seis louvores. Um, atribuído pelo General Comandante Geral da Guarda Nacional Republicana. Os outros, pelos Comandantes de Unidade.
De 1997 a 2000 foi Comandante da Formação do Comando Geral da Guarda.
De 2000 a 2003 desempenhou as funções de 2° comandante do Grupo Territorial da Guarda Nacional Republicana em Penafiel.
Por último, ao ser promovido a Tenente-coronel, foi colocado na Brigada Territorial de Évora.
Tem publicado alguns artigos e alguma poesia, em diversos órgãos da comunicação social, regional, e na Revista da Guarda, "Pela Lei e Pela Grei" é o livro agora editado, que nos apresenta, numa forma muito pessoal, alguns momentos da vida, alguns vividos na sua terra natal, Lisboinha, Pousaflores.
Cores da Vida
Junto à fonte vão beber
Duas meigas andorinhas,
Morrem de amor sem saber,
As águas são penas minhas!
(Fado das minhas penas: Francisco Bandeira Mateus)
*****
Eu cresci com essa fonte,
No mesmo ano nascemos,
Daquilo que lá vivemos,
As lembranças que vos conte,
Cobrem a altura de um monte!
Junto à Cêrca a vi correr,
Com límpidas águas encher,
Cântaros, asados, barris.
Consta que hoje os Javalis
Junto à fonte vão beber!
******
Duma ponta vinha "O Moço",
Da outra vinha o "Surrimpa",
Junto à nascente mais limpa,
Ambos regavam do poço,
Via-os à hora de almoço,
No balanço às "braçadinhas",
A despejar "barriquinhas",
Para engrossar a levada.
Tinham visita marcada
Duas meigas andorinhas.
*****
Do Murtal que te estimava,
Quem hoje não se admira!
Toda essa gente tão gira,
Que sedenta te visitava,
Nos teus degraus se sentava,
Para o cansaço vencer,
Partiu para não mais te ver!
Correm águas da nascente,
Abandonadas à frente,
Morrem de amor, sem saber.
*****
Guarda-te a velha sobreira,
Que ao toque da leve aragem,
Faz ouvir entre a ramagem,
Em canto, a história inteira,
De quem descia a ladeira!
Do aspecto que antes tinhas,
Desde o cimo das escadinhas,
Olhando o teu fontanário,
Resta o meu imaginário,
As águas são penas minhas! ..
*********
de:
Conterrâneo Anónimo
De cá: