-paisagem Portela de S. Lourenço, 12maio2006
Pouso a caneta e não escrevo
Penso a rima e não versejo
Digo ao sonho, não me atrevo
Sem coragem, nem desejo!
.
Fiz-me ao dia sorrateiro,
Logo ao romper da aurora.
Sem atrasos nem demora
Procurei um bom terreiro,
Para dar um tiro certeiro
Com minh’ arma de relevo,
Peço perdão a quem devo,
Por não ser um bom guerreiro
Devolvo a arma ao armeiro
Pouso a caneta e não escrevo.
.
A arma da minha estima
Pontiaguda e deslizante
Retornou ao fabricante
Tem a mira um pouco acima
Altera-se com o clima
Desprovido como me vejo
Sendo grande o meu ensejo
Ainda que veja a Palaia
O Lebre mais sua faia
Penso a rima e não versejo.
.
Quando à tarde me passeio
Pelas serras da freguesia,
Em dias de ventania,
Confesso o meu receio,
Dos moinhos no seu volteio.
Vem a noite com seu enlevo
Serenar o bom mancebo
O sono enche-me a alma
Para não perder a calma
Digo ao sonho não me atrevo.
.
Se sonho que faço um verso
Posso até ficar vaidoso
Mas se acordo é curioso
Em problemas imerso
Pela certa me disperso
A vida que antevejo
Rouba-me o sabor do beijo
Das papoilas na seara
Anda à deriva e não pára
Sem coragem e sem desejo.
..........
António Directo, in: www.Pousaflores.net , 14 maio2006
De cá: