Junto à fonte vão beber
Duas meigas andorinhas,
Morrem de amor sem saber,
As águas são penas minhas!
(Fado das minhas penas: Francisco Bandeira Mateus)
*****
Eu cresci com essa fonte,
No mesmo ano nascemos,
Daquilo que lá vivemos,
As lembranças que vos conte,
Cobrem a altura de um monte!
Junto à Cêrca a vi correr,
Com límpidas águas encher,
Cântaros, asados, barris.
Consta que hoje os Javalis
Junto à fonte vão beber!
******
Duma ponta vinha "O Moço",
Da outra vinha o "Surrimpa",
Junto à nascente mais limpa,
Ambos regavam do poço,
Via-os à hora de almoço,
No balanço às "braçadinhas",
A despejar "barriquinhas",
Para engrossar a levada.
Tinham visita marcada
Duas meigas andorinhas.
*****
Do Murtal que te estimava,
Quem hoje não se admira!
Toda essa gente tão gira,
Que sedenta te visitava,
Nos teus degraus se sentava,
Para o cansaço vencer,
Partiu para não mais te ver!
Correm águas da nascente,
Abandonadas à frente,
Morrem de amor, sem saber.
*****
Guarda-te a velha sobreira,
Que ao toque da leve aragem,
Faz ouvir entre a ramagem,
Em canto, a história inteira,
De quem descia a ladeira!
Do aspecto que antes tinhas,
Desde o cimo das escadinhas,
Olhando o teu fontanário,
Resta o meu imaginário,
As águas são penas minhas! ..
*********
de:
Conterrâneo Anónimo
De cá: